O lar não será mais o mesmo. Nem o real, nem o virtual. Porque, afinal, tudo na vida muda. As palavras, os fatos, os atos, os sonhos (daqueles de guardar no travesseiro ou daqueles da padaria da esquina), a cama, a mesa, o banho, a companhia, os livros, os desejos e anseios.
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
acidentes com crianças
Crianças são mesmo desconcertantes. Em segundos, conseguem escapar do olhar vigilante dos adultos e aprontar alguma estrepolia que lhes põe em risco a vida. Nunca me esqueço de um filme a que assisti sobre o Paulinho da Viola. Num trecho, ele conta que estava lendo jornal, quando a mulher lhe pediu que olhasse o filho enquanto ela tomava banho. De repente, num desses pressentimentos que só as mães têm, do banheiro ela gritou que pegassem a criança que estava caindo na piscina. A explicação do Paulinho da Viola atônito com o incidente — “Criança é assim, está ali naquela hora e de repente não está mais” — exprimiu sua estupefação diante das coisas que as crianças são capazes de aprontar e da falta absoluta da noção do perigo a que se expõem.
Basta um pequeno descuido, e lá estão elas subindo em cadeiras para olhar pela janela, abrindo os armários da cozinha ou chegando perto do fogão aceso, arranjando um jeito de mexer nos produtos de limpeza ou nos remédios, apesar de terem sido colocados em prateleiras altas e aparentemente inacessíveis.
A consequência óbvia dessa característica do comportamento infantil é que elas se machucam a despeito dos cuidados e do olhar vigilante dos adultos. Muitas vezes, felizmente, tudo não passa de um susto. Há ocasiões, porém, em que os acidentes são graves e requerem assistência médica imediata.
TOMADAS E JANELAS
Drauzio – Qual a fase em que as crianças ficam mais sujeitas aos acidentes domésticos?
Denise Katz – A partir do momento em que começam a movimentar-se sozinhas. Quando aprendem a engatinhar, por exemplo, por volta de um ano de idade, as crianças estão “prontas para aprontar”, seja enfiando o dedo nas tomadas elétricas, puxando a toalha da mesa com tudo que tem em cima ou pegando objetos que podem feri-la.
Acidentes domésticos na infância podem ter consequências graves. Uma criança de três anos, por exemplo, que anda, corre, fala, já se veste sozinha e que todos acham esperta e independente, essa mesma criança não tem a menor noção de perigo e é capaz de amarrar uma toalha de banho no pescoço, subir no parapeito da janela e sair voando. Não é que o tenha feito por impulso suicida. Ela acredita que pode voar como os super-heróis da televisão ou como o personagem da historinha do livro que a vovó leu naquela tarde.
Drauzio – Quando começam a engatinhar, as crianças demonstram uma atração irresistível pelas tomadas elétricas e vire-e-mexe estão tentado enfiar os dedinhos nos buracos. Qual o risco que esses choques elétricos podem provocar?
Denise Katz – Embora esses choques elétricos sejam fortes, intensos, a maioria deles não causa grandes complicações. No entanto, em bebês de 10kg, 11kg , podem provocar uma arritmia cardíaca grave, porque a corrente elétrica que entrou pelo dedinho colocado no buraco da tomada, passa não só pelo braço, mas também pelo coração. Ora, como nosso coração funciona às custas de estímulo elétrico, essa descarga extra de eletricidade pode provocar uma desorganização no batimento cardíaco conhecida como a arritmia, às vezes fatal, e a criança morrerá eletrocutada.
Drauzio – Alguns pais não cobrem as tomadas achando que, se tomarem um choque, as crianças aprenderão a não colocar o dedo ali.
Denise Katz – Essa é uma atitude muito errada. É muito mais fácil ensinar um cachorrinho que está sendo domesticado do que um bebê, que está descobrindo o mundo, a não fazer coisas que podem provocar acidentes. A única solução é afastá-lo do perigo. Por isso, as tomadas elétricas devem estar sempre vedadas. Não com fita crepe ou outra fita adesiva, porque ele vai lá, acha o brinquedo interessante, tira a fita e enfia o dedinho no buraco. É preciso bloquear as tomadas de forma a torná-las seguras.
Drauzio – Da mesma forma, também é imprescindível colocar telas ou grades nas janelas.
Denise Katz – As telas de proteção são tão indispensáveis quanto afastar os móveis de perto das janelas. Mesmo o bebê de dez, doze meses que não anda sozinho, consegue empurrar uma cadeira e nela subir desde que encontre alguma maneira para apoiar-se. Não é que o faça porque não está sendo vigiado. Nada disso. Bastam dois minutos de descuido e ele despenca lá do alto.
NA COZINHA
Drauzio – Em geral é na cozinha que os acidentes com criança são mais graves. Como é possível preveni-los?
Denise Katz – A cozinha é um verdadeiro laboratório de acidentes. Por ser um lugar com muitas portas de armários que a criança adora abrir e fechar, desinfetantes e outros produtos cáusticos devem ser guardados em prateleiras bem altas e trancados com chave que não pode ficar a seu alcance. Só assim será possível evitar que uma criança maiorzinha, mais irrequieta e levada, suba num banquinho e consiga abrir a porta para mexer nos produtos ali colocados.
Drauzio – Crianças nunca deveriam entrar na cozinha e circular perto do fogão.
Denise Katz – Chegar perto do fogão é muito perigoso, porque nele há sempre vasilhas com água quente ou fogo aceso. Por isso, os cabos das panelas devem estar sempre voltados para dentro. Cabo virado para fora do fogão pode chamar a atenção da criança que resolve pegá-lo. Com ele vem a panela e o que tem dentro que cai sobre a criança, quase sempre provocando queimaduras graves.
Drauzio – Como os pais podem avaliar se a queimadura pode ser tratada em casa o
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